09 outubro, 2008

All Star Preto

Ouviu o soar da sineta. Enquanto todos corriam em direção ao pátio, ele ficou parado em frente à sala dos professores, atarefado consigo mesmo.

Agachado, a franja escura balançando sobre a testa, ele apoiava o joelho direito no peito para facilitar a execução da tarefa. Os dedos tremiam por entre as pontas do cordão. Tentava nervoso relembrar as regras e etapas aprendidas há poucas semanas. Ela passou ao seu lado, abrindo sua lancheira, no intuito de pegar a maçã verde, sem querer notou que ele estava agachado, como era curiosa, parou ao seu lado.

- Precisa de ajuda?

- Não, eu sei fazer sozinho.

- Não sabe nada, você está aí faz um tempão.      

-É que estou me concentrando, só isso. Você não estava indo comer sua maçã?

- Acho que posso comer aqui... Quero ver se você sabe mesmo...

- Deixa de ser chata, eu sei sim, quer ver? Ó...

Recomeçou as etapas, os dedos entrecruzaram-se sem chegar a um final positivo. Começou a suar frio, afastou a franja da frente dos olhos e olhou para ela meio sem jeito. Como quem ouvisse um pedido, ela guardou novamente a maçã na lancheira, agachou e puxou o pé dele, que desequilibrando-se quase caiu sentado. Ela não ligou.

- É assim que se faz, olha...

Em três breves movimentos ela deixou o all star preto dele novamente justo. Mas ele não queria dar o braço a torcer.

- Mas era assim mesmo que estava fazendo...

Ela sorriu, ele enrubesceu. Os dois sabiam que, para ele, o simples cadarço ainda era um enorme desafio.

3 comentários:

Joana disse...

Inocentes.
Ainda tem tanto por vir...
Por vezes, parece que perdemos a inocência; as vezes nos é roubada, ora a adquirimos de volta de alguma maneira, e de novo...

Marcelo Maia disse...

Vai, vocaliza consonância...

Avulso disse...

Essa vai pra intranet!!