11 novembro, 2009

Em um certo apagão


O suor corria caudaloso pelo seu rosto enquanto acelerava ainda mais os passos na escuridão da avenida. O apagão inesperado agora alinhava-se ao seu interior, que nos últimos dias apresentava-se em silêncio vazio. A solidão aguda em meio a muitos faz questionar. Não saber lidar com a ausência do seu caráter aberto, num turbilhão de emoções descontínuas causa profunda melancolia.

Ao chegar no local em que seu transporte pararia ao seu sinal, foi surpreendido com o descaso do condutor do veículo. Após sentir o asco da fumaça cinzenta saída do motor, passou a aguardar durante indefiníveis minutos num banco improvisado. Rostos desconhecidos compartilhavam aquele espaço breu. Escritórios, centrais de atendimento, restaurantes e equipes de limpeza eram representados por caras e corpos transpirantes, exalando uma rotina caótica.

O tempo passou assim como transportes com os mais diversos destinos. Os minutos de espera e as mãos atadas o tornavam minuto a minuto um ser ainda mais desconhecido. Não saber qual o seu limite, o limite da sua paciência, o tamanho da sua compreensão com o seu redor, a estatura da sua significância diante do mundo causa profunda melancolia.

Quando levado ao seu primeiro destino pretendido, viu nas horas que elas já avançavam para além da possibilidade de chegar ao seu segundo e último destino. A insatisfação calada num interior geralmente expansivo e regrado pela satisfação, deu lugar a um fino descontentamento, inesperado e impuro. Questionamentos explodiam aos milhares em sua mente anteriormente sã. Uma solução era o que não via, apenas escuridão.

O suor já havia secado no corpo quando à porta de um hospital entregou-se como vencido. O sono e a revolta o embriagaram em rápidos minutos. O desconforto, os tendões exaustos e o nó na garganta apenas afirmavam qual era seu papel na vida. Só.

Amanheceu e a vida voltou ao normal.